Professora Nilra Jane, de 49 anos, viu o marido ser morto no portão de casa.
Felipe Quadros, soldado da PM suspeito dos crimes, continua preso no CPC.
Muito abalada, a professora Nilra Jane, de 49 anos, que teve a filha e o marido mortos pelo policial militar Felipe Quadros na segunda-feira (9), conversou com a imprensa nesta quinta (12). A mulher, que presenciou o assassinato, conta que está 'sem chão' e diz que deseja que a justiça seja feita. Ela disse ainda que tem recebido apoio de familiares, amigos e do comandante da Polícia Militar (PM) para enfrentar a situação.
Há cinco meses, conforme relato da professora, começou a 'perseguição' do policial à família dela. Nilra conta que não tinha muito contato com Felipe Quadros, porém, por meio da filha que foi morta, ela sabia da relação conturbada que ele tinha com a ex-namorada.
"Ele só veio uma vez aqui em casa, em um churrasco que meu marido fez. Minha filha era fisioterapeuta e quando foi trabalhar em Amajari se tornou amiga de uma enfermeira, que era namorada dele. A Janielly sempre me contava que ele maltratava a moça, a torturava", disse. Um áudio usado nas investigações mostra uma das ameaças do policial feita à ex.
Em junho deste ano, a professora presenciou um briga entre Felipe Quadros e a ex-namorada, que na época ainda tinha um relacionamento com ele. Após a discussão, a enfermeira denunciou o policial na Corregedoria da PM. O marido de Nilra e a filha foram testemunhas das agressões. Esse teria sido o motivo do soldado querer se vingar da família.
"Sempre que Carol [ex-namorada do militar] estava em Boa Vista, ela vinha aqui em casa. Um dia, Felipe chegou bastante 'alterado' e quis levá-la. Meu marido não deixou, pediu para ele se acalmar e voltar depois. Então, o policial pegou um cassetete e quebrou todo o carro da ex", disse.
A professora recorda que a partir daquele momento começaram a acontecer 'coisas estranhas' na casa dela. De acordo com ela, o portão do imóvel foi amassado duas vezes e tinha sinais de tentativa de arrombamento.
"Não queríamos ir depor contra ele. Mas, como chegou a intimação, eles foram. Mas falaram apenas o que viram. Eles não tinham nada contra esse rapaz. Meu marido chegou a dizer que ele não representava nenhuma ameaça", citou.
Segundo a professora, em nenhum momento a família achou que os ataques contra a casa dela pudessem ter partido do policial. Eles só suspeitaram quando o imóvel foi atingido com uma bala.
"A gente achava que se tratava de coisa de malandro de rua. Só relacionamos a ele quando atiraram no portão, pois Felipe também atirou na casa de Carol. Pelo jeito, queria que soubéssemos que era ele", frisou.
Medo da impunidade
A professora disse que não denunciou o policial Felipe Quadros na Corregedoria da PM por não ter como provar que ele era autor dos atentados contra a casa dela e por medo que ele pudesse fazer algo pior quando soubesse das denúncias. A família registrou apenas um boletim de ocorrência sem indicar o possível autor.
"Não sabíamos o que fazer. Entrei em contato com a família de Carol, para juntarmos as provas contra ele, mas não deu certo. Só registramos o boletim e buscamos ajuda de outras pessoas. Mas todas elas falavam que não adiantaria, pois não aconteceria nada com ele", recordou.
Segurança na casa foi reforçada após os ataques
Para tentar proteger a família, Nilra conta que o marido instalou câmeras de segurança na casa. "Tudo que pudemos fazer com relação à polícia, nós fizemos. Não adiantaria irmos à Corregedoria. Optamos por fingir que não sabíamos quem era, para ver se ele desistia".
A segurança na casa da professora foi reforçada há cerca de um mês. Na segunda-feira, o marido e a filha foram mortos. A mulher lembra que ela era sempre a primeira pessoa a sair, rotina que não se repetiu no dia do crime.
"Janiely saiu e ainda brincou comigo dizendo 'tchau, amiga'. Eu disse 'tchau, minha filha'. Depois disso, ouvimos a batida e saímos correndo. Meu marido foi na frente. Quando cheguei próximo ao portão, o vi atirando contra o meu esposo. Foi muito rápido. Voltei e tranquei a porta. Foi horrível", disse ela emocionada.
Nilra disse que tem evitado ler reportagens sobre o assunto. Ela ressaltou ainda que não deseja ter contato com a ex-namorada do policial, pois ela não traria boas lembranças. "Ele arrancou minha vida. Mas juro para vocês, não tenho sentimento ruim contra ele. Deus é mais rigoroso. Quero justiça", desabafou.
Policial continua preso no comando da PM
Felipe Quadros se entregou na Corregedroia da PM ainda na segunda-feira, dia em que ocorreram os crimes. Ele confessou ter assassinado Janielly Bezerra, o pai dela, Eliezio Bezerra, e o empresário Ernani de Oliveira.
Em nota, a PM informou que Felipe Quadros está recolhido no Comando de Policiamento da Capital por decisão judicial. Entretanto, o Comando Geral da instituição solicitou à Justiça a transferência dele para uma unidade prisional fora do quartel. Além disso, foi instaurado um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) contra ele.
0 Comentários